Após mais de dois anos de ensino híbrido na Educação Infantil, aprendemos muitas lições sobre tecnologias digitais para crianças. Com a volta das aulas presenciais, o desafio agora é dosar os recursos eletrônicos com experiências de vida real.

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Quando se fala em tecnologias digitais para crianças no século XXI, costumamos levantar algumas questões. Quando devemos apresentar as telas para os pequenos e pequenas? De que forma podemos controlar o uso? Como balancear celulares e computadores com experiências concretas e pessoais?


Durante a pandemia, estes foram questionamentos que perduraram, também, no ambiente escolar. Na Escola Autonomia, o ensino híbrido trouxe aprendizados que enriqueceram a qualidade da educação nas telas. Buscamos de tudo: ambientes virtuais de aprendizagem sofisticados, aplicativos interativos, plataformas acolhedoras, jogos para alfabetização…

Agora, com a volta ao presencial, outras perguntas surgem: o que faremos com as tecnologias educacionais? Como podemos readaptar crianças pequenas que viveram grande parte de suas vidas reclusas em casa? O que ficou faltando para seus desenvolvimentos? O que podemos levar de lição?

Somos a favor da tecnologia, principalmente quando usada em prol de conexões tangíveis. Por isso, após dois anos de aprendizado com o digital, a Escola Autonomia está retornando sua atenção para as experiências concretas, sem perder de vista os recursos assimilados.

"No dia a dia do Ensino Infantil, percebemos dificuldades das crianças em comandas simples, como fazer refeições, se vestir, abrir pacotes… O rolar de dedo na tela está em dia, mas as outras atividades motoras, nem tanto. Dessa forma, queremos resgatar o senso de 'eu consigo' e 'eu posso', a autonomia dos estudantes.", comenta Filipe Gattino, diretor da Educação Infantil e Fundamental 1.

Assim, entendemos que os recursos que o ensino remoto nos trouxeram foram essenciais para a época, mas que agora precisam ser adaptados. O digital não pode substituir atividades fundamentais para o desenvolvimento das crianças, já que os pequenos e pequenas precisam de experiências concretas, como morder, tocar, segurar, cheirar, correr, brincar e se relacionar.


 

Uso criativo e cuidadoso da tecnologia

O projetor de imagens é um recurso atrativo para o Ensino Infantil. Tome como exemplo o estudo de insetos da natureza. São pequenos, frágeis e não podem ser vistos por muitas crianças ao mesmo tempo. Com o projetor, a situação muda: ao encontrarmos um tatu-bola de jardim, podemos colocá-lo na lente do projetor para que ele possa andar livremente. A imagem é ampliada dezenas de vezes, e os estudantes conseguem ver, coletivamente, o bichinho caminhando por aí. Que alegria das crianças!

Outro artifício é a elaboração de pequenos filmes. Quando as crianças fazem vídeos, conseguem levar momentos da escola para dentro de casa, mostrando para as famílias o que elas não veem no período escolar. Assim, os pequenos e pequenas do Ensino Infantil constroem relatos e memórias a partir da troca de experiências entre pais, irmãos, professores e colegas.

No Fundamental 1, exploramos nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) com recursos sofisticados. Após 2020, alguns aplicativos se popularizaram no ensino híbrido, como Jamboard, Educacross, MindMeister, Padlet e até os mapas de satélite. No Autonomia, ampliamos a oferta com jogos para alfabetização, raciocínio lógico-matemático e inglês, por exemplo. Muito mais que um "despejador" de conteúdos, nosso AVA é complexo, lúdico, interativo e complementa a sala de aula.

Outra atividade de Ensino Fundamental que mescla conceitos digitais e analógicos é a Oficina de Lógica de Programação, projeto iniciado em 2022. Apesar das operações serem eletrônicas, crianças e adolescentes aprendem processamento de informações, novas linguagens e trabalho sistemático para além da tela do computador. Todas estas características são típicas de uma escola baseada no construtivismo e cultura maker.

"A criança deixa de ser somente o consumidor da tecnologia, e passa a ser também o produtor. Criamos projetos 'mão na massa' para que tenha essa inversão de papeis. Assim, a criança não é passiva com a tecnologia, ela explora, descobre e faz.", explica Silvia Kawassaki, coordenadora da Educação Infantil e Turno Estendido.

Com isso em mente, conseguimos estabelecer a união do analógico com o digital: a partir de recursos tecnológicos, como vídeos, fotos, projetores, mesas de luz e ambientes virtuais de aprendizagem, as crianças se conectam com experimentações da vida real. Assim, as possibilidades de ensino híbrido na educação infantil se potencializam, criando a balança ideal entre aqui e agora e lá no computador.


Filipe Gattino (Diretor/Educação Infantil e Fundamental 1)
Silvia Kawassaki (Coordenadora/Educação Infantil e Turno Estendido)
Tiago Carturani (Assessor/Tecnologias Educacionais)