Na Escola Autonomia, criamos feiras, projetos e atividades que incentivam a leitura entre os estudantes. Mas qual a importância do ensino da literatura nas escolas? O que fazer quando um livro acaba? E quando as crianças ainda não sabem ler?

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A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) atesta que "as experiências com a literatura infantil contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo". Sabemos, então, que as leituras são essenciais para a educação básica. Entretanto, o desafio de uma escola criativa não é ensinar a ler, e sim formar leitores para a vida.

Na Escola Autonomia, a literatura pulsa desde a fundação, por meio de saraus, troca-troca de livros, conversas com autores locais e contação de histórias. Assim, aumentamos nosso acervo cultural e, hoje, a Biblioteca Giramundo conta com mais de 13.600 títulos de literatura e materiais multimídia. A partir dela, estabelecemos os recursos necessários para refletirmos sobre ideias criativas para incentivar a leitura.

Além disso, sempre tivemos o cuidado de pensar no mundo dos leitores com quem dialogamos. No Ensino Fundamental 2 do Autonomia, buscamos referenciais já inseridos no cotidiano dos estudantes para estimular uma relação afetiva com a literatura — mesmo que os livros não façam parte de cânones literários.

É o caso da franquia Harry Potter, literatura infantojuvenil já aclamada na faixa etária de 6ºs anos. Ao trabalhar com as obras, por meio de leitura e gincanas literárias, os educadores da escola criativa conseguem se inserir no universo dos estudantes, para que, depois, construam pontes para textos com os quais os alunos e alunas não possuam familiaridade.

Uma nota, entretanto: literatura não é "bolinho". Mesmo criando mecanismos para atrair jovens à leitura, alguns terão dificuldades em ler e gostar de ler, até porque nem todos os livros importantes são de fácil compreensão. Precisamos reforçar que a leitura também é treino e que, quando um estudante se depara com uma obra difícil, o problema não está no educando, mas no processo constante de formação de hábitos de leitura.

Feito toda matéria escolar, alguns conteúdos são palatáveis e outras nem tanto. Por isso, a importância do ensino da literatura nas escolas. Por mais que haja uma construção de um cenário acessível, que seduza o estudante, os educadores precisam delinear o itinerário entre preferências já conhecidas rumo a outros horizontes — até então estranhos para eles.


O livro acabou. E agora?

A leitura por si só não é suficiente em uma escola criativa. Quando pensamos em trabalhar com um livro, pensamos também na sequência didática de pós-leitura, ou seja: uma produção cultural feita pelos estudantes que amplie os temas propostos. É o caso do projeto "Quando as paisagens contam histórias".

"Ao mesclar assuntos de várias disciplinas, os alunos e alunas de 6ºs anos criam narrativas sobre os diferentes domínios morfoclimáticos brasileiros. Assim, podem se transformar em autores com textos endereçados para o mundo, não só para mim", comenta Maria Isabel Brisolara, professora de Língua Portuguesa do Fundamental 2.

Outro grande exemplo de iniciativa literária contínua é o "Devoradores de Livros", projeto de Ensino Fundamental 1 do Autonomia. Desde 2017, a iniciativa busca fazer com que as crianças desenvolvam o gosto pela leitura e escrita, além de entenderem a necessidade dessas habilidades como ferramentas poderosas no campo do conhecimento.

O "Devoradores de Livros" funciona em cadeia. Nos 2ºs anos, as crianças leem suas histórias favoritas como inspiração. Em seguida, pedem aos estudantes dos 3ºs que escrevam uma história com X e Y elementos. Os 3ºs pedem que os 4ºs anos façam desenhos para ilustrar as narrativas encomendadas e, na ponta final do projeto, estão os 5ºs anos, responsáveis pela crítica do material. Assim, todos entram em contato com a construção de conhecimento de forma criativa, colaborativa e engenhosa, respeitando as habilidades e desafios de cada idade.

A Feira Literária é outra marca da importância do ensino da literatura no Autonomia. Anualmente, os projetos de todos os setores reúnem-se em uma feira temática para discutir como os livros se relacionam com os mais diversos conhecimentos. As turmas de toda a escola apresentam seus projetos em cartazes, peças, intervenções culturais e instalações artísticas para mostrar que, quando a literatura escapa das páginas e torna-se palco para outras atividades, a leitura é completa. Além disso, a feira é visitada por famílias e professores, que se envolvem cada vez mais nas leituras, disseminando o conteúdo apresentado pelos estudantes.

Ler sem saber ler

Na literatura infantil, as imagens contam tanto quanto as palavras. Fernando Vilela, ilustrador, resume: “no livro ilustrado, muitos elementos que não estão no texto podem ser percebidos pelas imagens. O desafio do leitor é: como ler as imagens de um livro?"

No Autonomia, trabalhamos com alfabetização visual antes de ensinar as crianças a lerem e escreverem palavras. As atividades de alfabetização visual vão desde contação de histórias em grupo até teatralização do que viram nos livros. Assim, quanto mais um estudante de Educação Infantil entende emoções e acontecimentos por meio de desenhos, mais fácil será para ele, depois, nomear e escrever o que vê.

Antes de chegar na história propriamente dita, a Educação Infantil trabalha também com elementos da capa. Quem é a pessoa que escreveu o livro? E a que desenhou? Onde ela mora? Onde fica isso? Neste processo que antecede a narrativa, as crianças entendem escolhas editoriais da literatura infantil e se apegam cada vez mais às histórias.

As crianças precisam ter contato com a leitura antes mesmo de dominar o código linguístico, porque um dos focos da literatura infantil em uma escola criativa é a oralidade. Mesmo que um livro ainda seja, em grande parte, um mistério, aumentar o repertório desde cedo incentiva o hábito de leitura. É ler para aprender a ler.

“Temos que dar banhos diários de linguagem em nossos filhos”, comenta Ilan Brenmann, escritor de livros infantis e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Em resumo, ​​a importância do ensino da literatura nas escolas é esta: quanto mais incentivamos o comportamento leitor em nossos estudantes, mais estimulamos o pensamento crítico e criativo, a imaginação, o desenvolvimento cognitivo e a leitura de mundo refinada, perspicaz e empática.

 


 

Filipe Gattino (Diretor/ Educação Infantil e Fundamental 1)
Giselda Motta (Professora/Educação Infantil)
Maria Isabel Brisolara (Professora/ Ensino Fundamental 2)