Durante o período escolar, as aulas de Educação Física são importantes para o corpo, mas igualmente essenciais para o desenvolvimento de outras competências. Resolução de problemas, tomada de decisões, inteligência emocional, autonomia e trabalho em grupo são alguns dos benefícios dos projetos pedagógicos de movimentação corporal.

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A prática regular de exercícios físicos e outras formas de movimentos corporais — como jogos, danças e brincadeiras — ajudam na formação integral de qualquer estudante. Seja em Ensino Infantil, Fundamental ou Médio, as aulas de Educação Física servem não somente para promover uma vida ativa e saudável, mas também para trabalhar aspectos que vão além de conteúdos esportivos.

O primeiro ponto positivo da prática de atividades físicas coletivas é o aspecto social. Quando somos crianças, no Infantil ou Fundamental, não temos medo de nada: cair e errar faz parte da rotina dos pequenos e pequenas em qualquer projeto pedagógico que envolva se mexer. Entretanto, na medida em que ficamos mais velhos, levantamos barreiras pelo medo de errar em público.

Se os colegas de turma riem da primeira vez que um jovem erra o alvo arremessando uma bola, há chances de não haver segunda tentativa. Cada vez mais, os adolescentes temem a exposição no grupo. Por isso, para que as práticas corporais  tenham valor social e favoreçam o desenvolvimento integral dos estudantes, é necessário criar um ambiente de acolhimento.

Quanto mais um grupo for acolhedor, mais cada estudante consegue desenvolver suas próprias estratégias. Tomemos o pique-bandeira como exemplo. A pessoa pode não ser a mais rápida em quadra, mas isso não significa que ela não seja capaz de desenvolver táticas de jogo que se adaptem melhor a ela. É uma questão de percepção e de incentivo.

Além disso, precisamos ter em mente que o espaço de Educação Física nas escolas não é um treino profissional para as Olimpíadas de Paris 2024. É uma aula que envolve descobertas e desafios: se errou, não tem problema, vamos de novo. Esta é a mentalidade de grupo que devemos criar, com autonomia e companheirismo acima de insegurança e rivalidade.

É evidente que um pouco de disputa pode ser saudável para a formação integral dos estudantes. Na Escola Autonomia, os Jogos são um dos eventos mais coletivos da escola. Nos Jogos, desenvolvem-se aspectos  como tomada de decisões, resolução de problemas, sentimentos de frustração e respeito às equipes. É uma atividade extracurricular que faz sentido não só lúdico, mas de construção de grupo.

"Têm alunos que se mostram mais tímidos o ano inteiro, mas chegam nas Olímpiadas e brilham no Skate. É esse o senso de coletivo que o esporte traz, a sensação de pertencer a um grupo. Eles vão para a escola só pra isso", exemplifica William Salles, professor de Educação Física.

Além do aspecto social, a prática regular de exercícios físicos ajuda na educação integral por meio da construção de inteligência emocional dos estudantes. Estudos apontam que movimentar o corpo diminui os riscos de depressão e os níveis de ansiedade, além de melhorar a capacidade cognitiva por meio do planejamento e execução de movimentos.

Para um estudante, conseguir liberar a tensão acumulada em sala de aula é essencial. Exercícios físicos não vão necessariamente curar doenças mentais, mas com certeza não atrapalham. De certa forma, as aulas de Educação Física, se bem executadas, funcionam como uma terapia de grupo: lá se criam conflitos e rearranjam-se dinâmicas de turma. É o espaço de extravasar e conversar através de ações corporais.

Ao se exercitarem regularmente, os alunos e alunas também criam consciência de quando precisam parar os estudos e levantar da cadeira. Foi pensando nisso que o Autonomia passou a realizar ginástica laboral como uma das atividades extracurriculares. Durante as aulas de outras disciplinas, os professores de Educação Física entram "de assalto" e realizam exercícios de movimentação corporal por, aproximadamente, 10 minutos.

Dança, música, alongamento… Tudo vale. A ideia é quebrar a seriedade imóvel da sala de aula, criando um ambiente mais leve e focado para os conteúdos e projetos pedagógicos que vêm em seguida. Se o corpo às vezes precisa de descanso, a mente também.

Outra alternativa que a Escola Autonomia encontrou para estender as atividades físicas são as oficinas extracurriculares. As atividades acontecem por meio de instituições parceiras da escola e funcionam depois do período das aulas. Judô, Ginástica Rítmica, Balé e Skate são algumas das opções de expressão corporal disponíveis.

Além disso, durante a pandemia, os professores desenvolveram uma nova forma de período estendido para a Educação Física. Aliada às aulas presenciais no contraturno, disponibilizamos vídeos de exercícios na plataforma virtual de aprendizagem. Assim, os alunos e alunas podem se movimentar em casa quando e como preferirem.

A pandemia também foi desafio para o Ensino Infantil. Em casa, as crianças encontraram maneiras de brincar e gastar energia. Entretanto, na volta ao presencial, tiveram que reaprender o aspecto social das aulas de Educação Física: como brincar junto com outras crianças? Como compartilhar espaços e materiais? 

É esse o sentido da Educação Física como educação integral: trabalhar inúmeras capacidades e competências pelo maior tempo possível. Corpo e mente não são dissociados — pelo contrário, caminham juntos e assim devem ser tratados.


Bruno Soldi (Professor/Educação Física)
Priscyla Queiroz (Professora/Educação Física)
Whyllerton Cruz (Professor/Educação Física)
WIlliam Salles (Professor/Educação Física)